quarta-feira, julho 22, 2009

O Chevalier Temer e seus 7 Mosqueteiros

ELIO GASPARI

Como a Madame Du Barry em 1793,
os deputados resolverem dar um pulinho em Paris

O PRESIDENTE da Câmara, deputado Michel Temer, acompanhado de sete mosqueteiros, usufruiu uma boca-livre de cinco dias em Paris. Havia um feriado por lá mas, por cá, a Casa onde trabalham tinha serviço e votava a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Os doutores foram comemorar o aniversário da Revolução Francesa e hospedaram-se no hotel Lutetia, uma boa casa, equidistante de dois marcos da cidade: a Conciergerie e a Praça da Concórdia. Numa ficava a cana dos condenados. Na outra, a lâmina de Sanson. A namorada de Luís 15, Madame Du Barry passou de uma à outra. Ela fugira para Londres depois da queda da Bastilha, mas decidiu retornar à França. Degolaram-na em 1793.

O mistério que levou a Du Barry a regressar é da mesma família da compulsão que levou Temer e seus sete mosqueteiros a entrarem na boca-livre. Pediram discrição à embaixada e disseram que viajavam a convite de um Instituto de Alto Estudos de Defesa Nacional. Verdade, mas o repórter Antonio Ribeiro revelou que, segundo esse mesmo instituto, o paganini ficou por conta da indústria aeronáutica francesa, pois a fábrica Dassault quer vender 36 caças Rafale à FAB, numa conta de R$ 4 bilhões. (Convite para ir a Paris é fácil arrumar. O que falta é patrocinador.) A Câmara absolvera o deputado-castelão e o Senado tornou-se um apêndice da delegacia de roubos e furtos, mas os oito doutores, como a Du Barry, acharam que dava.

Há um problema de percepção na cúpula do Parlamento nacional. Eles são incapazes de entender que certas coisas não podem ser feitas. Eis o que disse Michel Temer à repórter Lúcia Jardim:"Não vejo isso como uma tentativa de sedução, até porque, se fosse, seria muito fraca".

(Conta a lenda que o professor Henry Kissinger disse a uma senhora que toda mulher tem um preço e ela respondeu: "Isso é um insulto. Eu, nem por 1 milhão de dólares". "Pois veja que já estamos discutindo preço", respondeu Kissinger.)

"Se fosse a Câmara que tivesse pagado nossa viagem, aí sim, eu tenho certeza de que fariam um escândalo em cima disso."(Resta saber por que os franceses pagaram. Se os deputados pudessem justificar o motivo da viagem, a Câmara, ou o governo francês, deveriam pagá-la. Do contrário, não deviam aceitá-la.) "Acho que só não haveria questionamento se nós tivéssemos vindo a pé."

(Para continuar no tom de Temer, há uma enorme torcida para que os oito resolvam ir a pé até Paris. Deveriam anunciar o ponto do litoral de onde partiria a comitiva, para que a galera pudesse se despedir deles.)

Viajaram com o deputado Michel Temer:
Cândido Vaccarezza (SP), líder do PT na Câmara.
Carlos Zarattini (PT-SP), vice-líder do PT na Câmara.
Ibsen Pinheiro (PMDB-RS).
José Aníbal (SP), líder do PSDB na Câmara.
Maria Lucia Cardoso (PSDB-MG), vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Raul Jungmann (PPS-PE), presidente da Frente Parlamentar de Defesa Nacional.
Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM na Câmara.

Nessa comitiva há deputados que não gostariam de ser confundidos com a nobreza decadente e degolada. Também ficou na Conciergerie, e foi para a lâmina, o companheiro Danton, que tinha um fraco por seduções.

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