quarta-feira, setembro 07, 2011

Recrutas atrapalham pacificação no Alemão, diz líder do AfroReggae

07/09/2011 - 07h00

ANTÔNIO GOIS
DO RIO

Para José Júnior, coordenador do AfroReggae, ONG que atua em várias favelas do Rio, jovens recrutas despreparados estão colocando em risco o processo de pacificação do Alemão.

Leia a entrevista:

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Folha - Quais queixas de moradores chegam a vocês?

José Júnior - A relação com os oficiais do Exército é muito boa, mas há um grupo de jovens recrutas, com 18 ou 19 anos, complemente despreparados.

Estão desrespeitando as pessoas, abordando de maneira truculenta, mexendo com mulher de morador. Estão preparados para uma guerra, mas lá dentro já não tem mais guerra. Moradores são tratados com desconfiança, como inimigos.

Alguns desses garotos [recrutas do Exército] fazem questão de falar de que favela são. Dizem que moram em áreas controladas por facções rivais da que dominava o Alemão [o Comando Vermelho]. Estão externalizando de maneira ignorante e estúpida um ódio entre facções num lugar já pacificado, que é exemplo.

Os moradores continuam acreditando na pacificação e têm muitas esperanças. Não é justo que esses garotos despreparados ponham tudo a perder. Uma das meninas que tomou tiro de borracha na boca está ameaçada.

O desrespeito é total. O Exército diz que vai se manifestar, mas não se manifestar. Diz que vai apurar, mas não apura. O problema no Alemão é pequeno, mas estão permitindo que aumente para algo muito pior.

Há o risco de repetirmos o que aconteceu no morro da Providência, em que o despreparo de um tenente resultou na morte de três jovens que foram levados como castigo para um morro controlado por facção rival?

Não acho que vai acontecer o mesmo, até porque, no caso do Alemão, está sendo tudo denunciado agora. Mas as pessoas podem se revoltar ainda mais e, aí sim, maus elementos, entre aspas, que querem fazer baderna e aproveitar a situação, podem sim se infiltrar em manifestações populares. Meu receio é de que utilizem isso de maneira indevida. É bom lembrar que também no meio político nem todo mundo está satisfeito com o projeto do governador.

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