sexta-feira, setembro 09, 2011

VIVA A TECNOMACUMBA!

Caetano Veloso tem algumas perguntas a respeito de Rita Ribeiro:

“Quem é essa cantora que tem a emissão lisa (sem vibratos) mais impressionante que ouvi em muito tempo? De quem é essa voz encorpada e delicada, de quem são esses glissandos seguros e de grande efeito experimental sem sombra de vulgaridade?”.

A própria Rita ofereceu respostas brilhantes a esses questionamentos na quinta-feira (8), quando São Luís do Maranhão comemorou seus 399 anos. E não poderia ter recebido presente melhor.

A programação estabelecida pela Prefeitura tucana, se não foi espetacular, teve o mérito de ser aprovada pelo público que compareceu em massa à Praça Maria Aragão. Os pontos altos da festa sem dúvida foram as apresentações do grupo Vamu di Samba, do Coral São João e, claro, da Tecnomacumba.

Rita Ribeiro iniciou seu banho de talento de forma magnífica, acompanhada pelas caixeiras do Divino Espírito Santo da Casa Fanti Ashanti. Devido ao espaço delimitado na lista de atrações, a intérprete – como ela mesma afirmou – não teve condições de levar ao palco o melhor da cultura maranhense na homenagem feita a Upaon-Açu naquela noite.

Mas na sequência Rita simplesmente destruiu. Não sou especialista no assunto, mas senti que a aparelhagem que ela e sua banda utilizaram não estava cem por cento. Pelo menos não comprometeu. O público foi cativado logo de cara, com “Moça Bonita” – pontuada pelas risadas de pomba-gira da cantora. Caetano novamente, agora sobre o trabalho de Rita: “O repertório é uma antologia de composições sobre o tema das religiões africanas no Brasil - sempre emolduradas por cantos saídos diretamente dessas práticas religiosas”. Por e essas e por outras ela foi indicada ao Grammy.

Fomos brindados, por exemplo, com “Iansã”, e todos nós cantamos junto com ela o refrão “Iansã, cadê Ogum?/ Foi pro mar!/ Mas Iansã, cadê Ogum?/ Foi pro mar”. Os mais velhos na certa recordaram-se da interpretação de Clara Nunes, e os jovens mais antenados ao panorama musical apreciaram essa evocação das raízes africanas, sempre muito presentes na cultura maranhense, tanto quanto a batida cadenciada das caixeiras do Divino.

Rita Ribeiro conquistou de vez o povo presente na praça com a excelente “Filhos da precisão”, de Erasmo Dibel. Um reggae que foi aprovado por unanimidade e com louvor e me fez pensar em um poeta menor que publicou em versos sua declaração de amor a São Luís em um jornal daqui da cidade (não este, graças a Deus), e no meu entendimento não poderia ter saído com infelicidade maior ao condenar o epíteto de “Jamaica Brasileira”, associado à capital maranhense. Todo mundo tem direito de expressar as próprias opiniões e nós, formadores das mesmas, devemos defender esse direito até a hora da nossa morte. Tenho apenas uma observação a fazer. Quando Rita deu início a “Fuzileiros de elite”, de Josias Sobrinho, cheguei à seguinte conclusão:

Quem disse que São Luís não pode ser a Jamaica Brasileira está redondamente equivocado. Nossa capital é uma espécie de balaio, no qual todas as vertentes musicais e artísticas podem e devem conviver harmoniosamente. Ora, no show em questão teve espaço até para a “Garçom”, que consagrou o ótimo Reginaldo Rossi.

Só para provar que é no pé do lajeiro que a Rita Ribeiro mora.

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