Dizem que a Fórmula 1 é o mais
coletivo dos esportes individuais. É a mais pura verdade. Quando se encaixa com
perfeição no cockpit elaborado conforme seu tamanho e massa corporal, o piloto –
desde o pole position ao azarado que nem consegue alinhar o carro no grid –
conta com toda uma estrutura tecnológica e humana. Uma vez azeitada, com todas
as peças funcionando com a precisão de um relógio suíço, as vitórias se
sucedem, até a conquista do campeonato mundial.
Pois
a vitória de Kimi Raikkonen no Grande Prêmio da Austrália, realizado neste
domingo no circuito de Albert Park, é a tradução fiel do que anotou-se no
parágrafo anterior. Só não foi tão “fácil” quanto o Homem de Gelo definiu, após
a premiação no pódio. Afinal de contas, a rigor ninguém o apontava como um dos
prováveis candidatos a passar em primeiro pela linha de chegada. Os nomes
preferidos eram os mesmos da temporada passada da F-1: Vettel, Alonso,
Hamilton, Felipe Massa, Button e, forçando muito a barra, Mark Webber.
Ainda
mais com as complicadas sessões de treinos, todas realizadas debaixo de
aguaceiros ferozes. Ao fim do Q3, Raikkonen posicionou sua Lotus na sétima
posição (ao lado de seu companheiro de equipe, Romain Grosjean) e ali
permaneceu, calado, na dele, comportamento aliás ajustado ao seu feitio.
Assistia tranquilamente à imprensa do mundo inteiro repetir vezes sem conta o
favoritismo da Red Bull e da Ferrari.
Como
um bom jogador de pôquer, aguardou o momento certo para jogar na mesa a cartada
decisiva, que o ajudou a vencer a corrida.
Essa
cartada foi a estratégia.
“Nosso
plano era fazer dois pit stops”, declarou Raikkonen depois da prova, “e
embora seja difícil saber a hora
de parar nas primeiras corridas para não entrar muito cedo, fizemos tudo
exatamente certo. Seguimos nosso plano e funcionou perfeitamente”.
Deram
uma boa lida nesse depoimento? Viram os termos que ele utilizou? “Nosso”, “fizemos”,
“seguimos”. É o trabalho da equipe que, se bem realizado, incentiva o piloto a
dar o seu melhor nas mais de 50, 60 voltas que uma corrida eventualmente pode
ter. E foi isso o que de fato aconteceu em Albert Park. Não sei se é assim que
funciona, mas imagino que, após a definição do grid na manhã de domingo (noite
de sábado aqui no Brasil), Raikkonen e Grosjean – que terminou em décimo,
também um grande resultado – sentaram-se de imediato com seu chefe de equipe,
Eric Boullier, mais outras cabeças pensantes da Lotus, e acertaram em cheio na
previsão: “Os ponteiros vão fazer três pits. Nós optaremos por poupar ao máximo
os pneus e o combustível e assim nos daremos bem”. Dito e feito.
Para
encerrar, vamos explicar o título desta primeira consideração a respeito do que
vimos e entendemos a respeito de Fórmula 1. Esse esporte que, cada vez mais tem
sido abandonado, por assim dizer, pelo torcedor brasileiro. Em breve
abordaremos esse assunto. Mas primeiro: por que “Admirável homem das neves”?
Porque
Kimi Raikkonen, diferentemente de Michael Shumacher, voltou à Fórmula 1 para
não fazer figuração. Os elementos que fizeram dele campeão mundial um dia ainda
estão lá: a ousadia, o “olho de tigre”, o “sangue nos olhos”. Elementos que em
Ayrton Senna e Nigel Mansell, por exemplo, extrapolavam.
Mais
admirável do que isso só ele sendo campeão. Talvez não seja. Mas quem se
importa, não é mesmo?
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