segunda-feira, julho 08, 2013

A LUZ NO FIM DO TÚNEL

“Os mortos no mar são como espinhos no coração”. Essa frase parece ter saído da pena de Melville ou de Jorge Amado – apenas para citar dois escribas que trataram com rara poesia a relação de amor e ódio e vida e morte da humanidade com o mar.
            No entanto, como o comercial daquele antigo anticaspa, parece, mas não é. Quem disse que os mortos no mar são como espinhos no coração foi o papa Francisco, quando esteve recentemente na ilha italiana de Lampedusa para “chorar” os muitos imigrantes do Oriente Médio e do norte da África que acabam perdendo a vida em naufrágios na tentativa de alcançarem o Velho Continente em busca de uma vida melhor, longe de guerras, da fome e das epidemias.
            Ainda lembrando ditos mais velhos do que andar para a frente, a impressão é a primeira que fica. E a que me passa a imagem do novo papa é a de um sujeito desencanado. Ou seja, a de alguém que encara sem problemas e com a dose certa de bom humor o imenso fardo de comandar uma das principais denominações religiosas do planeta. Basta recordar o discurso com que brindou a multidão aglomerada na Praça de São Pedro no dia de sua escolha: “Vocês sabem que o dever do conclave era de dar um bispo a Roma. Parece que meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo. Mas estamos aqui!”.
            Pois este simpático papa argentino – o primeiro pontífice nascido no continente americano –, que estará aqui no Brasil neste mês para a Jornada Mundial da Juventude, produziu a “quatro mãos” (aproveitou, segundo entendi, algumas ideias de seu antecessor, Bento XVI) a encíclica Lumen Fidei, “A Luz da Fé”, sua primeira encíclica.
            Para quem não sabe, encíclicas são documentos pontifícios – ou seja, produzidos pelos papas – dirigidos aos bispos do mundo inteiro e, por meio destes, para os fiéis. Por meio delas, o papa define a posição da Igreja Católica sobre um determinado tema.
            Com a Lumen Fidei, Sua Santidade basicamente nos diz que “a fé enriquece a existência humana em todas as suas dimensões”. Por isso que a chamamos, em muitas ocasiões, de “a luz no fim do túnel”. Quando a maré da vida muitas vezes está contrária aos nossos objetivos, mesmo os menos ambiciosos, as pontadas de desespero nos atingem com força suficiente para nos atordoar ou para nos conduzir a gestos extremos, como o assassinato e o suicídio. É nessas horas que recorremos à Palavra, como esta passagem encontrada em Tiago 1: 5-8:
            “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com fé; não duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa. O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos”.
            Não é o caso do nosso bom Francisco. Cuja constância ocorre pela alegria que certamente marcará seu Pontificado. E, por ter deixado que seu coração se tornasse alegre e desprovido de espinhos para enfrentar os muitos problemas que ainda grassam pelo Vaticano e acabam afetando as dioceses de maneira geral, como um organismo doente, Jorge Mario Bergoglio tem tudo para realizar um bom governo. Prova disso é a sua Lumen Fidei, que transmite para todas as famílias mensagens de esperança quanto ao futuro – mesmo nestes tempos de violência desmedida.
            Ou, nas palavras do papa Francisco, anotadas em sua encíclica inicial: “A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construirmos solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro”.
            Assinamos embaixo, Sua Santidade.


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