domingo, julho 28, 2013

PROCISSÃO E VIA-SACRA

O Grande Prêmio da Hungria, disputado ontem, bem que poderia ter feito parte da programação da Jornada Mundial da Juventude. O papa Francisco certamente teria gostado muito da corrida, porque ela não passou de uma procissão de automóveis, ao longo de 70 voltas.
Uma verdadeira via-sacra para quem a assistiu. Uns porque teimam em gostar da Fórmula 1 (eu, por exemplo) e outros por dever de ofício (idem).
Mas é melhor parar de reclamar. Não foi uma prova de todo ruim. Em primeiro lugar porque a vitória de Lewis Hamilton foi justa. Na última sessão de treinos, no sábado, ele já havia sido espetacular – ainda que um pouco blasé ao conversar com seu engenheiro a respeito de ter batido o “tubarão” Sebastian Vettel, mandando-o para o segundo lugar.
Em Hungaroring, mais ou menos como acontece em Mônaco, quem larga em primeiro tem 90% de chances de receber o troféu no lugar mais alto do pódio. A F-1 corre por lá desde 1986. Vai continuar correndo até o dia do Juízo, uma vez que o contrato foi renovado. É uma pista muito rápida. Com o auxílio do DRS, os carro chegavam tranquilamente aos 300 por hora. O negócio é que não favorece as ultrapassagens. Para conquistar uma posição, o piloto deve dar uma de Nelson Piquet para cima de Ayrton Senna em 86.
É um risco tremendo, como se pode imaginar. Vejam o caso de Vettel. Nas últimas voltas, o talentoso alemão – campeoníssimo, como diria meu amigo Biné Morais – simplesmente parou de pensar no campeonato e quis de todas as formas ultrapassar o segundo colocado Raikkonen. Tanto que quase propiciou um enrosco de sua Red Bull com a Lotus do adversário. Acredito que alguém na RBR puxou-lhe a orelha, certamente aconselhando que era muito melhor sair da Hungria com a pontuação referente ao terceiro posto do que sair da corrida sem ponto nenhum e ainda provando o gosto da areia batida da área de escape.
Outro dia, li uma reportagem especial a respeito da reforma do circuito de Interlagos. A reconfiguração terá como objetivo primordial o aumento da área de paddock, incluindo obviamente o setor dos boxes, uma reivindicação das equipes e dos pilotos – jamais atendida, no entanto.
Essa modificação envolve a transferência da linha de chegada e partida para a reta oposta. Aquela situada logo depois do “S do Senna”. Outras alterações aconteceriam logo depois do trecho em questão. Sem duvida alguma, possibilitariam aumento na quantidade de pontos de ultrapassagem.

Fico me perguntando por que Hungaroring não poderia passar pela mesma “operação plástica”, por assim dizer. Afinal, quando o assunto é Fórmula 1, até o menos informado telespectador sabe que “procissão” não rima com “competição”.

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