sábado, julho 13, 2013

Blockbuster do Renascimento chega a São Paulo

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13/07/2013 - 03h06

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Numa versão reducionista da história, Florença criou o desenho e Veneza, a cor. Mas entre uma e outra simplificação, o Renascimento, movimento que mudou para sempre as artes visuais, na verdade se desdobrou numa ampla gama de escolas e estilos.
Foram dois séculos de renovação estilística que tiraram o mundo das trevas da era medieval e propagaram a luz da filosofia humanista --o mesmo facho luminoso, claro e preciso que recobre as figuras e construções das primeiras telas renascentistas.
Na mais cara mostra de artes plásticas do país neste ano --R$ 6,5 milhões de orçamento e obras avaliadas em R$ 600 milhões--, o Centro Cultural Banco do Brasil abre hoje em São Paulo um recorte de obras desse período, que vão de 1423 a 1573, num arco de 150 anos da produção de mestres como Michelangelo, Leonardo Da Vinci, Ticiano, Bellini, Rafael e Botticelli.

Exposição "Mestres do Renascimento", no CCBB

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Divulgação
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"Juízo Universal, Pentecostes e Pregação de São Pedro, Ascensão de Cristo", tríptico de Fra Angelico, faz parte da mostra "Mestres do Renascimento", em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo
Estão lá, no quarto andar do museu, alguns dos primeiros experimentos dessa corrente, a ideia de perspectiva clara e absoluta, que esquadrinhava o mundo de acordo com preceitos matemáticos e geométricos muito precisos.
Num afresco de Botticelli, santo Agostinho é retratado estudando, a biblioteca atrás dele recriada em mínimos detalhes e seu rosto aceso, vivo.
"É uma luz claríssima, que toca todos os objetos no quadro", descreve Alessandro Delpriori, um dos curadores da mostra. "Esse é um bom modelo da escola florentina."
De fato, a terra onde Filippo Brunelleschi projetou a cúpula da catedral da cidade, serviu de berço para o movimento, com a nobreza querendo refundar ali uma nova Atenas, uma cidade movida à luz do rigor matemático.
Nos estudos de Michelangelo para dois portais romanos, isso fica claro pelo resgate que faz das estruturas da arquitetura antiga. São colunas gigantescas, inabaláveis.
Fra Angelico, florentino que trabalhou em Roma a serviço da Santa Sé, mostra bem a transição do período gótico, de figuras toscas e suntuosos fundos dourados, à claridade espartana da geometria.
É talvez nesse ponto que Rafael seja uma figura de transição. Sua perspectiva sem falhas não afoga a beleza da figura humana, muito menos sua carnalidade. É no vermelho profundo do manto e no rosto de doçura sublime de seu "Cristo Abençoando", de 1506, que o pintor de Urbino revela sua abertura às outras escolas renascentistas.
Editoria de Arte/Folhapress
COR E 'SFUMATO'
De certa forma, o rigor de Florença vai dando lugar a um derretimento dos traços e uma overdose de tons cada vez mais vibrantes na rota em direção ao norte, chegando ao ápice da cor em Veneza.
Na "Anunciação" de Giovanni Bellini, de 1489, as cores são estridentes. Embora o ambiente atrás das figuras siga as leis da geometria, é a intensidade da cor que parece importar. Também o tecido anguloso das roupas do anjo lembra papel amassado, de forte luminosidade, aceno a pintores nórdicos e flamengos, de traços mais duros.
Também no norte, em Milão, terra de Da Vinci, esse diálogo com os pintores nórdicos foi mais intenso, com a diferença que o autor da "Mona Lisa" soube reinventar a representação da paisagem com o "sfumato", técnica que dava a impressão de uma luz mais difusa, com personagens envoltos na atmosfera.
Embora sua "Leda e o Cisne", que está na mostra, ainda não tenha esse efeito, artistas do norte como Ticiano também souberam mergulhar personagens nessa luz mais natural, como se soprados por uma brisa solar.

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