sábado, setembro 08, 2007

BEATNIKS E CLÁSSICOS PARA QUEM NÃO TEM DINHEIRO SOBRANDO

Vivian Rangel
Há algum tempo livro de bolso deixou de ser sinônimo de edição desleixada, com tradução duvidosa, texto recortado e páginas que se soltam na terceira leitura. O mercado é cada vez mais disputado pelas grandes editoras que aproveitam os direitos já adquiridos em seu catálogo para elaborar volumes simples - economizando no papel e nas capas e retirando orelhas e imagens, por exemplo. Durante a Bienal, a Record segue os passos da Companhia das Letras - que lançou seu selo de bolso na Bienal de 2005 - e lança o Best Bolso. A L&PM aposta em caixas com volumes reunidos de Fernando Pessoa e Shakespeare e também quadrinhos de Garfield e Hagar, o terrível - belas opções para presente que saem orgulhosamente do bolso para a estante.
Os primeiros títulos a ganhar preços mais acessíveis na Best Bolso pertencem exatamente a dois dos segmentos mais procurados durante a Bienal: clássicos literários e livros de referência. Entre os 24 títulos que serão lançados na semana que vem, estão Baudolino, de Umberto Eco, A queda de Albert Camus e O Gattopardo, de Tomasidi Lampedusa.
- As edições de bolso são dedicadas a um um público relativamente novo, interessado em boa literatura e também em livros acadêmicos. Mas que não tem dinheiro sobrando no fim do mês - define a diretora editorial da Record, Luciana Villas-Boas.
A previsão da Record é lançar cerca de 90 livros de bolso no prazo de três anos, todos entre R$ 14,90 e R$ 19,90. A leva de 2008 deve trazer A casa das sete mulheres, de Letícia Wierzchowski, e uma biografia de Ayrton Senna . O novo selo terá uma proposta de distribuição diferente: além das estantes em livrarias, ganha as gôndolas de supermercados e lojas de conveniência.
A boa distribuição é uma das marcas da L&PM, há anos adotada por jovens que buscam não apenas obras mais baratas mas inéditos lançados diretamente em versão de bolso. A editora, com 650 livros no catálogo, consagrou-se por publicar clássicos - como o recente Crime e castigo, de Dostoiévski - e destacar a literatura beatnik - como os Diários de Jack Kerouac, Uivo, de Allen Ginsberg e Gasolina e Lady Vestal , de George Corso.
- Ao contrário da tradição brasileira de livros de bolso de segunda categoria, seja nas más edições ou no aproveitamento de material encalhado no catálogo, lançamos obras em primeira mão e fazemos questão de contratar tradutores de primeira linha como Paulo Neves e Ruy Castro - afirma o editor Ivan Pinheiro Machado. - Não temos pais ricos ou espanhóis para pagar a conta. Sobrevivemos graças ao interesse do leitor que aprecia nosso catálogo polifônico, desde a literatura chamada de transgressão como Bukowski até os grandes clássicos.
Durante a Bienal, a L&PM lança o inédito Geração beat, peça que Jack Kerouac teria escrito em apenas um noite de 1957, mesmo ano de publicação de On the road. No campo das referências, a grande estrela é o Dicionário Caldas Aulete da língua portuguesa (30 mil verbetes a R$ 19).
A grande novidade são as caixas que reúnem vários volumes.
-Vamos lançar Guerra e paz , de Tolstoi, em quatro volumes, e caixas com obras reunidas de Shakespeare, Fernando Pessoa e quadrinhos - enumera Pinheiro Machado. - São edições mais preocupadas com o apelo visual, na linha do que se chama nos Estados Unidos de gift book (livros para presente).
Outra opção para um mimo charmoso lançado durante a Bienal é a coleção Arte de Bolso, da Companhia Editora Nacional, formada por pequenos volumes sobre artistas brasileiros contemporâneos. Longe dos temidos preços dos livros de arte, cada um sai por R$ 23. As obras têm cerca de 60 reproduções, cronologia, biografia e uma pequena apresentação do artista. Até o momento, as edições sobre a Tomie Ohtake e Rubens Gerchman lideram as vendas. Na Bienal serão lançados livros sobre Maria Bonomi e Renina Katz.

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