segunda-feira, setembro 10, 2007

GRUPO MISTURA MÚSICA E LITERATURA EM CALÇADA NO LEBLON

Leandro Souto Maior, Agência JB
RIO - "Cinqüenta e cinco minutos de música e literatura para alegrar as ruas do Leblon"... A primeira frase proferida religiosamente toda quarta-feira, às 19h30, nas esquinas das ruas Ataulfo de Paiva e Aristídes Espínola pelo ator, filósofo e artista performático Freddy Ribeiro resume a proposta do show "Bonitos & Paranóicos".
A idéia de misturar música com poesia e literatura começou quando Omar Salomão, filho do poeta tropicalista Waly Salomão, foi convidado para participar de um evento em um sebo de livros no Leblon junto do ator e apresentador Michel Melamed, que acabou impossibilitado de participar na última hora. Inseguro de se apresentar sozinho, Omar chamou amigos músicos para dar uma força fornecendo uma 'trilha-sonora'. E assim surgiu o grupo Vulgo Qinho & Os Cara, formado por Qinho (voz e violão), Caio Barreto (guitarra), Leonardo Scudy (baixo), Miguel Couto (bateria) e Omar (poesias).
O baiano radicado no Rio Freddy Ribeiro já tinha presenciado propostas semelhantes em sua terra natal e quando viu uma apresentação do grupo ficou entusiasmado. Acabaram por juntar suas idéias no espetáculo "Bonitos & Paranóicos", e escolheram as esquinas da Ataulfo com Aristídes como palco.
- Ali é uma esquina de resistência, com uma importância cultural para a cidade e onde foram feitas grandes músicas - justifica Freddy.
Desavisados que passam pelo local ficam naturalmente curiosos com a caminhonete que encosta toda semana, cheia de equipamentos de som, seguida de um grupo de jovens músicos com seus amplificadores, guitarra, baixo, bateria, pedaleiras, microfones e, principalmente, palavras.
"Bonitos e Paranóicos" é o grupo Vulgo Qinho & Os Cara, apresentando suas músicas inéditas e trilhas sonoras para as poesias e textos declamados por Omar Salomão e o convidado Freddy Ribeiro, que interpreta Clarice Lispector, Nietzsche, Guimarães Rosa e muito mais.
O show estreou em maio e completou nesta última quarta-feira, 16 semanas 'em cartaz' na calçada do chamado 'quadrilátero das vaidades'. As pessoas passam e param para ouvir o som e muitas vezes travar um primeiro contato a poesia e com a obra dos autores escolhidos.
- É difícil recitar poesia. Pode ser uma experiência insuportável para quem ouve, mas com a música por trás a poesia fica muito mais saborosa e acessível - diz Omar.
A proposta é, no mínimo, original, mas não é unanimidade. Os artistas, que não ganham nada além da divulgação do trabalho e chegam a pagar o aluguel do equipamento de som, alegam que o objetivo é levar cultura para as pessoas e reunir os vizinhos em benefício da arte. Mas nem todos os vizinhos vêem com bons olhos a movimentação que junta cerca de cinqüenta pessoas toda quarta-feira no Leblon.
- Cultura é válida sempre, desde que seja respeitado o direito do outro cidadão. O que eles fazem abre precedente para que todos também possam fazer uso daquele espaço público repetidas vezes. E mais: será que se fossem pessoas de classes humildes, da zona norte, e não jovens de classe média da zona sul, teriam a mesma aceitação ou seriam também silenciosamente aceitos? A polícia ia chegar rápido para acabar com a festa - ponderou a advogada Marcia Rocha, moradora do quarteirão.
Já o músico João Carlos Pinaud, que mora de frente para o local onde acontece a apresentação, acredita que a população é obrigada a aceitar coisas piores que uma manifestação como a do grupo.
- Na cidade grande somos sentenciados a aceitar uma série de coisas, a violência, o malabarista do sinal, as buzinas... considero que arte gratuita nas esquinas são manifestações positivas.
Na verdade, a polícia já chegou algumas vezes, só que diferente do final do filme "Let It Be" dos Beatles, ninguém foi detido ou o som foi interrompido. Eles são chamados, provavelmente por algum morador, mas como não há tumulto, só dão uma olhada e deixam estar... Também não aparecem autoridades da prefeitura ou qualquer tipo de fiscalização. E enquanto deixam, o grupo segue planejando expandir sua idéia em um evento para marcar o começo do verão: ocupar todas as esquinas do Leblon até Copacabana com bandas, performances e declamações.
- O Rio tem que honrar o título de capital cultural do país – torce Freddy.
Além do 'plano de expansão', o Vulgo Qinho & Os Cara está com seu primeiro CD independente pronto para ser lançado em outubro, e o projeto "Bonitos & Paranóicos" tem registrado imagens nas quartas-feiras musicais do Leblon para lançar seu primeiro registro em DVD.

Nenhum comentário: