quinta-feira, setembro 13, 2007

LEDA & CELISE

Não bastasse o desprezível preconceito de que são vítimas diariamente, as pessoas pertencentes à sigla GLBT não encontram, nos principais meios de comunicação, uma definição simples quanto a nomenclaturas e definições.
Esta minha opinião se deve ao fato de que, antes de comentar o bonito romance de Leda e Celise, visitei a Internet para uma pesquisa rápida a respeito do universo dos gays, lésbicas, bissexuais e “transgêneros”. Porque recorri ao “Gúgol”, a primeira fonte de pesquisa que apareceu foi a Wikipédia. É justamente por onde começa a confusão.
Diz o site que, no início dos tempos, a sigla utilizada era a GLBT. Em seguida, afirma que, “cada vez mais”, vem sendo usada a LGBT. Pura questão de cavalheirismo, imagino, posicionar as lésbicas em primeiro lugar. Depois, no parágrafo seguinte, apa-rece uma tal de LGBTQ ou GLBTQ. Donde a letra “Q” se refere a queer. Mas esta pa-lavra não poderia ser empregada no atual contexto porque, inicialmente, é uma gíria inglesa – que literalmente significa “estranho”. Outra derivação possível também não ajuda: queer vem de quare do Inglês Antigo, que significaria “questionado” ou então “desconhecido”.
Não satisfeito, o indivíduo que produziu o verbete ainda inclui na brincadeira o termo LGBTQS. Nesse caso, o “S” refere-se a heterossexuais que simpatizam ou aju-dem o movimento GLBT. Já a letra “T” conta com uma informação adicional. Trata-se do reforço à identidade dos transexuais, “já que estes têm parte de suas necessidades e reivindicações diferentes das dos transgêneros, principalmente no que se refere à ade-quação de seu sexo anatômico (através de cirurgia) ao mental”.
Neste ano, como vem acontecendo há algum tempo, São Luís teve a sua Parada do Orgulho GLBT. Não fui à avenida Litorânea, no domingo em que ocorreu a festa. Em primeiro lugar, porque precisava trabalhar (e quem não precisa, mané!). Em segun-do lugar, não foi porque tinha medo de ser associado a um ou outro homossexual, mas-culino ou feminino. Por que eu deveria ter medo de um ser humano que simplesmente, em um momento de grande coragem aceitou, de corpo e alma, as inclinações incentiva-das pelo conteúdo genético que o originou? Certa vez, ao conversar com dois indivíduos pertencentes à Igreja Batista, eles não paravam de associar as palavras “homossexual” e “doença”. Como sempre deve acontecer, não deve ter espaço a generalização em deba-tes que se pretendem sérios. O pensamento daqueles dois não traduzia o da Igreja Batis-ta como um todo, que acima de tudo nos ensina que devemos semear o mundo com a-mor, paz e felicidade.
Há ódio, também. Muita raiva. A fúria do pai, que espanca, para “consertá-lo”, o filho que apresenta mais características femininas do que é capaz de tolerar. A perplexi-dade indignada da esposa, que, após tantos e tantos e tantos anos de casamento, ouve o marido dizer-lhe que apaixonou-se por outra pessoa. E que essa pessoa é do sexo mas-culino! Ninguém é capaz de me convencer do contrário: em pleno século XXI, ainda há pessoas que são humilhadas, mutiladas e massacradas por ignorantes que adorariam ter sido os carrascos da Inquisição.
Agora, vocês devem estar se perguntando: “O título da crônica desse maluco não é ‘Leda e Celise’? Então! Cadê as duas, doidão?”. Se pensaram assim, parabéns. Real-mente, eu queria comentar que Leda e Celise estão muito felizes juntas. Que o casamen-to, se assim Deus permitir (e vai, com certeza), está marcado para acontecer em breve. Que uma delas não pode ter filhos e por isso a outra fará inseminação artificial. Que isso deve causar, sei lá eu, até certo ponto uma ponta de tristeza. Porque, se as duas pudes-sem engravidar juntas, a felicidade delas seria quatro vezes maior.
Mas na verdade não tenho muito o que comentar a respeito de Leda e Celise. O que apenas posso lhes dizer, para finalizar essas linhas, é que a linda história de amor que elas protagonizam foi capaz de vencer o medo, o ódio e o preconceito. É isso aí.

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