quinta-feira, setembro 06, 2007

PAVAROTTI

Lá no Bairro de Fátima, as pessoas com quem eu conversava de vez em quando mostravam-se muito curiosas quanto ao que seria o bendito século XXI.
Alguns imaginavam que na próxima centúria haveria as maravilhas tecnológicas antecipadas pela literatura (Júlio Verne), pelo cinema (“De volta para o futuro”) e pelas histórias em quadrinhos (“Crash”, graphic novel da DC Comics). Outros acreditavam que a humanidade se veria livre de três dos quatro cavaleiros do apocalipse: a guerra, a fome e a peste. E também do desemprego e da pobreza absoluta.
Quando a Aids e o câncer começaram a interessar mais aos meios de comunica-ção, esses mesmos “visionários” tinham certeza de que os médicos do amanhã desen-volveriam bálsamos capazes de erradicar essas doenças. Era uma crença baseada em ideais positivistas – incluídos gradativamente no subconsciente coletivo – segundo os quais a ciência está a serviço do estado de bem-estar social.
Agora que o tal do século XXI está perto de completar sua primeira década, vejo que as bolas de cristal de outrora equivocaram-se totalmente. As maravilhas tecnológi-cas estão reservadas a 10% (se tanto) da população mundial, a humanidade continua às voltas com os três cavaleiros e a completa falta de vontade política não permite o fim do desemprego e da pobreza absoluta.
Hoje, os bálsamos desenvolvidos garantem pelo menos sobrevida a quem tem Aids. Tudo o que pode ser feito é estabelecer terapias que possam atenuar o sofrimento do paciente. O mesmo pode ser dito em relação ao câncer? Diante da morte de Luciano Pavarotti, receio que a resposta deva ser um NÃO absurdamente garrafal.
O que é o câncer? De acordo com a tal da Wikipédia, é um nome para a neopla-sia maligna. Caracteriza-se por uma população de células que crescem e se dividem sem respeitar os limites normais, invadem e destroem tecidos adjacentes e podem se espalhar para lugares distantes do corpo, através de um processo conhecido como metástase.
Segundo informações do Ministério da Saúde, o risco de desenvolver câncer de pâncreas – que matou Pavarotti no fim de um combate desigual que durou vários anos – aumenta após os 50 anos de idade, principalmente na faixa de 65 aos 80. Ao falecer, o tenor tinha 71. A maior parte dos casos é diagnosticada em fase avançada. Portanto, é tratada para fins paliativos. A taxa de mortalidade desse desgraçado é muito alta. É um diabo de difícil diagnóstico e extremamente agressivo.
Ou seja, senhoras e senhores: Pavarotti sofreu. E muito. O pâncreas é responsá-vel pela produção de enzimas, que atuam na digestão dos alimentos, e pela insulina – encarregada de diminuir o nível de glicose no sangue. Pela posição do pâncreas – na cavidade mais profunda do abdome -, é praticamente impossível a detecção precoce do tumor (a neoplasia). Quando é detectado, já está em estágio avançado e o doente, em estado terminal.
Em seguida, a seguinte informação pode ser lida no sítio do Ministério: “A cura do câncer de pâncreas só é possível quando este for detectado em fase inicial. Nos casos passíveis de cirurgia, o tratamento mais indicado é a ressecção (retirada), dependendo do estágio do tumor”. Nada mais contraditório, não? Primeiro, afirma que a taxa de mortalidade da doença é elevada. A seguir, dá o desconto de uma quase improvável salvação. Mas entendo o que se passava na cabeça de quem escreveu isso. É melhor dizer que o câncer de pâncreas tem cura do que permitir a multiplicação de suicidas.
Como diria o Faustão, “mais do que nunca” devemos prestar as devidas home-nagens ao homem que assumiu a complicada tarefa de aproximar a música clássica (a ópera, no caso) de uma juventude claramente voltada a uma cultura pop que quase não abre espaço para a erudição. Pavarotti cantou ao lado de Bryan Adams, dividiu o palco com a banda U2 e intensificou o esforço humanitário a favor dos fracos e oprimidos aliado a Elton John, Liza Minelli e Eric Clapton.
Hoje, Luciano Pavarotti alcançou a condição de imortal.

Um comentário:

Anônimo disse...

É, o mundo está deluto hj
beijos