segunda-feira, setembro 17, 2007

LIVROS LONGOS, VIDA ÁGIL

Vivian Rangel
É como duelar com moinhos de vento. Desembarcar numa ilha repleta de ciclopes. Ou desafiar o tempo, internando-se num sanatório no alto de uma montanha. Na acelerada vida moderna, repleta de excessos de informação e mídias concorrentes, insistir na leitura de cartapácios alçados à categoria de clássicos imperdíveis pode parecer contradição. Mas como ignorar a presença humilhante daquele volume intocado na estante, o qual parece sibilar: "Sou um clássico, minhas interpretações são infinitas..."? Como evitar a citação de almanaque e admitir jamais ter enfrentado com bravura e resistência as desventuras de Dom Quixote, a trajetória de Ulisses, a tosse tísica de Hans Castorp em A montanha mágica?
Na mesa A vida é curta e os livros são longos, atração de terça na 13ª Bienal do Livro, o bibliófilo Hariberto de Miranda Jordão, o jornalista Sergio Augusto e o acadêmico Sergio Paulo Rouanet vão falar sobre seus clássicos preferidos e a melhor maneira de enfrentá-los em silêncio e solidão, resistindo ao entretenimento fast-food. Discussão que o Idéias antecipa e amplia com a colaboração de outros escritores convidados para a Bienal do Rio, que começou na quinta e seguirá até o dia 23, no Riocentro.
Um grande clássico, para Luiz Ruffato, é "aquele livro que foi lido em sua época e será lido em todas, porque fala a todos os homens indistintamente, consolidando a transcendência da arte". Livros que são muito maiores que a vida de um simples homem. Ou, como definiu Italo Calvino em um ensaio sobre os motivos para se ler um clássico, "aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível". Para Mark Twain - lembra Sergio Augusto - clássicos são "aqueles livros que todo mundo gostaria de ter lido mas ninguém quer ler". Pilhérias de lado, o jornalista é direto e recorre ao pai-dos-burros:
- Clássico é aquilo cujo valor foi posto à prova do tempo, aquilo que, pela originalidade, pureza de língua e forma perfeita, se tornou modelo digno de imitação.
Se se consagrar como clássico é passar no teste de uma história bem escrita e envolvente, o escritor Deonísio da Silva constata, por outro lado, que o latifúndio dedicado à leitura foi repartido. A coexistência com outras formas de representação - TV, cinema e internet, principalmente - provoca como primeiro efeito a redução no tamanho dos livros contemporâneos. Se antes era comum que passassem das 500 páginas, hoje os desse tamanho são cada vez mais raros.
- Até meados do século 20, a leitura era uma distração familiar. Pais liam para filhos os chamados "romances-rio" - lembra o acadêmico Moacyr Scliar. - O estilo de narrar tornou-se mais sintético, as longas descrições foram suprimidas, o que explica a dificuldade de ler os volumes mais alentados.
Os longos períodos descritivos podem enfadar os condicionados a receber imagens mais imediatas ou prontas. Para a escritora Fernanda Young, a rapidez com que é possível consumir entretenimento pode desestimular os leitores:
- O conflito entre pensamento e tempo, eriçado cada vez mais, é o principal inimigo da leitura de livros longos.
A falta de tempo, para a escritora Adriana Lisboa, não justifica a falta de leitura, que para ela pode ser convocada - "na fila do banco ou no metrô". O importante é enfrentar o ritmo de vida frenético que nos envolve:
- Encontrar tempo para ler clássicos como O homem sem qualidades e Guerra e paz é quase uma atitude de resistência, pessoal e silenciosa, diante de uma imposição de participação frenética no mundo - elabora Adriana.

Um comentário:

Bruna Castelo Branco disse...

Oh Ney, você que é muito simpático, mesmo assim, obrigada pelo elogio
beijos