THE NEW YORK TIMES
James Barron
Os cientistas começaram a especular sobre o que de fato matou Ludwig van Beethoven quase tão rápido quanto ele foi enterrado em 1827. Ele reclamou de uma “existência miserável” com uma longa lista de sintomas: dores abdominais, problemas digestivos, cólica, bronquite crônica, odores corporais e muito mau hálito. E é claro, também havia o problema de audição.
Há treze anos, cientistas, incluindo um que havia investigado se Napoleão morreu por envenenamento de arsênico e se a pintura do Santo Sudário datava da época de Cristo, testou fios de cabelo de Beethoven e descartou a sífilis como causa da morte. Inesperadamente, eles encontraram sinais de uma exposição aguda ao chumbo.
Há cinco anos, testes de diferentes amostras do cabelo de Beethoven e de um pequeno pedaço de seu crânio apontaram novamente para o chumbo. Isso, dizem os estudiosos de Beethoven, pode explicar seu temperamento infame e seus ocasionais lapsos de memória. Alguns acreditam que ele bebeu muito vinho barato que era adoçado – ao costume do século 19 – com chumbo para esconder o gosto amargo.
Mas na semana passada o especialista em envenenamento por chumbo na Escola de Medicina de Mount Sinai em Nova York testou as mesma amostra do crânio de Beethoven que havia sido examinada em 2005, junto com outro fragmento ainda maior. O pesquisador, Andrew C. Todd, disse que no geral, não descobriu mais chumbo do que o que é encontrado na maioria das pessoas.
“Beethoven não teve uma exposição alta e longa ao chumbo”, disse Todd, “então acho que podemos parar de olhar para o chumbo como um fator importante em sua vida.”
As descobertas de Todd no Mount Sinai surpreenderam William R. Meredith, um estudioso de Beethoven que havia carregado os fragmentos do crânio para Nova York desde sua base na Califórnia. Ele disse que esperava que os testes de Todd mostrassem elevados níveis de chumbo, porque os testes anteriores haviam revelado que a quantidade no cabelo de Beethoven era bem acima do normal.
“É uma volta a estaca zero para os cientistas e médicos”, disse Meredith.
Ele falou que os testes de Todd foram valiosos por mostrar o quanto – ou, como foi descoberto, o quão pouco – de chumbo havia nos fragmentos do crânio. Todd prometeu medições precisas, e depois de dois dias de testes no Mount Sinai, ele disse que o fragmento maior do crânio tinha 13 microgramas de chumbo por grama, “nada excepcionalmente acima do que nos poderíamos esperar” num homem com a idade de Beethoven, que morreu aos 56 anos.
O fragmento menor registrou bem mais – 48 microgramas por grama – e ele não soube explicar a diferença. A exposição ao chumbo é cumulativa, disse Todd, então o nível costuma aumentar à medida que a pessoa envelhece, mesmo que ela não se exponha à concentrações grandes de, por exemplo, tinta de chumbo.
Meredith disse que se os testes não mostraram o que matou Beethoven, pelo menos eles indicaram o que pode ser descartado como causa de sua morte.
“As pessoas perguntavam se ele morreu por beber vinho de ameixa, por mastigar seu lápis, por comer peixe envenenado”, diz Meredith, professor da Universidade Estadual de San Jose e diretor do Centro Ira F. Brilliant para Estudos de Beethoven. “Agora sabemos que todas essas perguntas são desnecessárias. Não precisamos mais investigar a exposição tóxica ao chumbo.”
William J. Walsh, um pesquisador foerence de Illinois que coordenou os primeiros testes, notou que Todd havia testado apenas fragmentos de crânio, e não amostras de cabelo. Mas concordou com a ideia de que a exposição de Beethoven ao chumbo foi um problema de curta duração que apareceu já no fim de sua vida.
Como os testes de Walsh, alguns dos quais conduzidos no Laboratório Nacional Argonne em Illinois, a análise do Mount Sinai envolveu várias medições com raio X fluorescente. Todd disse que o material do crânio era similar ao material encontrado nos ossos da perna que ele estuda para determinar se uma pessoa sofreu envenenamento por chumbo. A doença é conhecida por causa irritabilidade, falta de energia, dores de cabeça, e por fazer com que os músculos pareçam fracos: todos sintomas coerentes com os de Beethoven.
Aos 56 anos, Beethoven teve problemas de saúde. Ele passou por várias drenagens abdominais para eliminar fluidos e, na época em que morreu, um dos tratamentos era a base de bebidas de fruta. Seu médico “havia percebido – ou talvez soubesse há muito tempo – que Beethoven gostava de vinhos fortes”, escreveu o biógrafo Edmund Morris em “Beethoven: The Universal Composer” [“Beethoven: O Compositor Universal”] (HarperCollins, 2005). “Como era de se esperar, Beethoven abusou dessa prescrição, e passou a ficar bêbado e sofrer de diarreia.”
Alguns médicos modernos sustentam que há sinais de doença coronária. Outros especulam sobre o lupus.
“Seus últimos anos foram muito miseráveis”, disse Susan Kagan, pianista que é estudiosa de Beethoven e professora emérita do Hunter College em Nova York. “Ele sofreu muito fisicamente. Há um grito de dor atrás do outro em suas cartas. Não sei se ele foi maltratado pelos médicos, mas eles não sabiam muita coisa naquela época, em comparação com o que sabem hoje. Derramaram óleo quente dentro de seus ouvidos. Você imagina como isso deve ter doído?”
O corpo de Beethoven foi exumado em 1863, junto com o corpo de Franz Schubert, que foi enterrado no mesmo cemitério em Vienna. “O principal objetivo era, é claro, recuperar os crânios”, escreveu um amigo de Beethoven, que levou vários pedaços do crânio do compositor para casa e os colocou com orgulho ao lado de sua cama. Entre estes pedaços estavam os dois que Todd testou no Mount Sinai.
“O que descobrimos não elimina a possibilidade de que ele tenha sido intoxicado de forma aguda pelos unguentos que eram colocados na ferida abdominal”, disse Todd. Mas isso não o teria matado, acrescentou.
Tradução: Eloise De Vylder
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