terça-feira, maio 18, 2010

O LIVRO E SEU FUTURO

Sou um formador de biblioteca. Como o saudoso José Mindlin, um apaixonado pelo livro. Antes de partir para o andar de cima, Mindlin contabilizava “aproximadamente” 40 mil volumes, incluindo obras de literatura brasileira e portuguesa, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários, periódicos, livros científicos e didáticos, iconografia e livros de artistas. A maior biblioteca particular do gênero neste país. Talvez no mundo.
Mês passado, dediquei quase um dia inteiro a contabilizar os meus livros. Cheguei à marca dos 504 tomos. Devagar se vai ao longe, presumo. Mindlin chegou aos 40 mil com 95 anos. O e-book já era uma realidade muito antes de seu falecimento. Sempre tive a curiosidade de saber o que ele pensava a respeito desse novo modelo assumido pelo livro na alvorada do século XXI.
“Conhecer”. Este era o título do livro que deu origem à inquietação das minhas leituras. Uma enciclopédia que mostrava a estrutura do Sistema Solar, como viviam os homens das cavernas e a radiografia de um automóvel da época. Recordo que era um livro de capa vermelha e grandalhão – perdia apenas em tamanho e número de páginas, claro, à Bíblia de Dona Rosa, minha tia. Recordo que o manuseio e o transporte dessas duas “crianças” não era tarefa das mais fáceis. A mesma encrenca passa por estudantes de Direito e de Medicina. O leitor de hoje não passa pelas mesmas dificuldades com o e-book, até porque, enquanto tecnologia, é um produto totalmente conceitual.
Outra vantagem do e-book, além da portabilidade, é o fato de custar muito mais barato que o livro comum.
No dia em que o grande e ilustre Jurivê Macedo também deixou este mundo triste e feio e dirigiu-se para uma realidade muito melhor, encontrei no site da revista “Época” declarações de um ilustre escritor por mim até então desconhecido, chamado Jean-Claude Carrière, segundo as quais “o e-book vai desaparecer”.
“Mas é também preciso dizer”, destaca o amigo de Umberto Eco na entrevista, “que o e-book já está obsoleto. Já está ultrapassado. Pois teremos no ano que vem uma nova geração de telefones celulares que nos colocarão diretamente em contato com as bibliotecas, ou seja, não teremos mais necessidade de abastecer o nosso e-book. É esse o problema no momento: o mais cansativo é colocar no e-book o que queremos levar na viagem, ou o que queremos consultar a seguir. A partir do momento em que tivermos outra engenhoca que poderá nos conectar com todas as bibliotecas do mundo, o e-book vai desaparecer”.
Acredito que esse é o destino da tecnologia. Penso no primeiro celular do meu pai – um trambolho que mais parecia um rádio-comunicador do Exército. Os seguintes já apareceram com menos da metade do tamanho do primeiro, mas o carregador de bateria era um aparelho à parte. Os de hoje, além de apresentar a praticidade da autonomia e caberem tranqüilamente na palma da mão, ainda oferecerem ao usuário a praticidade de recursos como MP 15, rádio FM e TV.
Outro exemplo: o câmbio automático nos automóveis. O sistema se propõe a manter a rotação do motor quase constante e o câmbio automaticamente faz a troca das marchas. Nos sistemas modernos com câmbio automático, a troca das marchas é praticamente imperceptível ao motorista, em relação ao modelo manual, muito mais comum aqui no Brasil.
No entanto, a tecnologia jamais poderá vencer a tradição. O e-book tem uma desvantagem essencial: é dependente de outros meios de transmissão de dados. Como o próprio Jean-Claude fez questão de ressaltar. Caso o computador e o celular não estiverem em condições – ou se, por alguma razão, algum problema inutilizar o pen-drive –, o usuário não terá como acessá-lo. Bom, nessas horas nada como recorrer à boa e velha biblioteca. Tenho certeza de que Mindlin concordaria.

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