quinta-feira, maio 13, 2010

ESSE BRASIL QUE DEVE LER

Concluída a leitura da pesquisa Retratos da leitura no Brasil (Instituto Pró-livro, 2008), no qual consta, no segundo parágrafo do 5º capítulo, intitulado “A escola e a formação de leitores” – de autoria de André Lázaro e Jeanete Beauchamp –, a seguinte observação: “A pesquisa evidencia que é a escola quem faz o Brasil ler. O Brasil está estudando e é a partir da escola que os brasileiros entram em contato com o processo de leitura e, por meio dela, acessam os livros, independentemente de sua classe social”.
Pode até parecer, em um primeiro momento, a famosa “descoberta da pólvora”. Mas não é bem assim. Afinal, como se sabe, nosso país não é desigual apenas em termos políticos e econômicos. As disparidades ocorrem no mais importante de todos os pontos nevrálgicos: a educação.
De um lado, temos as escolas do Sudeste – nas quais, até onde sei, algumas aulas já estão sendo ministradas por meio da tal da tecnologia 3-D.
Na outra vertente, a do atraso, muitas crianças do Norte-Nordeste sequer tem uma escola para chamar de sua. “Estudam”, muitas vezes, em espaços cedidos por igrejas ou simplesmente ao ar livre – quando não encontram uma alma caridosa capaz de ajudá-las a ter acesso ao mais básico dos direitos, previsto pela Constituição: a cidadania. Mas como podem encontrá-la se às vezes não recebem nem a obrigatória merenda escolar?
Dez anos atrás, o Ministério da Educação informou apenas 4% das salas de aula das escolas públicas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste tinha dicionário, 1 em cada 3 não tinha apagador e em 25% delas não havia quadro-negro em condições de uso.
Uma década depois, a situação mudou muito pouco. Em recente editorial, o site do “Diário de Popular” nos diz que, “como nos demais aspectos sociais, também no que se refere à redução do analfabetismo, o Brasil avança muito lentamente. Os poucos recursos orçamentários que tem destinado aos programas de alfabetização, evidenciam que o governo não considera a solução do problema uma efetiva prioridade”. Com certeza houve avanços, mas nada que surtisse efeito a longo prazo ou tivesse sido destacado pelos meios de comunicação.
Outro aspecto destacado pela pesquisa Retratos da leitura no Brasil é que a criança e o adolescente raramente levam o hábito da leitura para a fase adulta justamente porque encontraram na escola alguém que os obrigasse a ler. Trata-se, como se pode logo perceber, da questão do livro paradidático. Confesso que os odiava. Precisava lê-los para responder às questões encartadas na obra – a fim de obter uma determinada nota. Além do quê, as histórias eram péssimas. Os piores eram os textos voltados para o público adolescente. Antecipavam as bisonhices hoje vistas em folhetins como Malhação e outros que-tais.
Hoje, estamos às voltas com o filão das séries literárias. O Fiat Lux desse lance foram os livros protagonizados pelo insofismável Harry Potter. Hoje, nós temos Percy Jackson, House of Night e, claro, Crepúsculo. Nada que agrade, enquanto gênero, este velho leitor de clássicos machadianos que vos escreve. Mas jamais seria a favor de que tais livros fossem queimados em praça pública apenas porque deles não gosto.
Pelo contrário. Dependesse de mim, eles seriam dados “de grátis” a escolas e a comunidades carentes ou que então não tivessem facilitado o acesso ao livro. Porque são voltados a um público jovem. E, diferente dos torcedores do Maranhão Atlético Clube, esse público-alvo deve ser constantemente renovado, para garantir que este nosso Brasil varonil seja realmente feito de homens e livros.

Um comentário:

Laercio Campos disse...

Tinha que cutucar o pobre do MAC? rsrs