terça-feira, novembro 27, 2007

ALVOS FÁCEIS

Uma rápida consulta à internet informa que a cidade de São Paulo, hoje, tem quase 40 milhões de habitantes. Um trabalho da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), de 2003, apontava a impressionante existência de 10.700 moradores de rua na capital do mais importante estado brasileiro.
Esse dado, repito, foi divulgado em 2003. Portanto, há quatro anos. Quantos moradores deve haver atualmente, na Paulicéia? 12.000? 13.000? São pessoas que vêm de bairros distantes da periferia ou, na maioria dos casos, de outros municípios do próprio estado ou de regiões menos favorecidas economicamente, como os do Norte e (principalmente) do Nordeste. Em alguns casos, tais indivíduos não passam de sonhadores, que desejam muito um bom emprego, a casa própria e bastante dinheiro no banco para que não tenham justamente que pensar em dinheiro, pelo resto da vida.
Mas acabam não conseguindo realizar esses sonhos. E acabam perdendo o rumo do próprio destino, e como resultado tornam-se moradores de rua, e passam a viver da triste prática da mendicância. Assim, transformam-se automaticamente em alvos fáceis, como aconteceu hoje de manhã. Uma dessas pessoas, para as quais (infelizmente) ninguém na verdade dá a mínima importância até que acontece algo de muito ruim com elas, teve o corpo incendiado. Também infelizmente, esse acontecimento vai causar um tanto de indignação e revolta... mas vai ficar por isso mesmo. É triste reconhecer isso, mas é a mais pura verdade. E mesmo que consigam encontrar os responsáveis (criminosos desse naipe nunca agem sozinhos), duvido que sejam mantidos por muito tempo na cadeia. Muito provavelmente, não há mais provas do que fizeram além do corpo carbonizado do coitado que escolheram, por um acaso muito macabro. E nenhuma outra testemunha além dos próprios predadores.
Fiz trinta anos ontem e começo a me desiludir com certos aspectos da vida. A cada dia, aprendo que uma parte do mundo é podre. Não há justiça e por isso mesmo não faz o menor sentido. Espero sinceramente que isso mude, qualquer dia desses. As próximas gerações (meus filhos ou os dos meus amigos) não podem crescer em um mundo sem esperança.

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