segunda-feira, novembro 12, 2007

Fica com Deus, Martins

Érika Pinheiro Rosa

Ainda impactada e sem entender bem como um procedimento preventivo acabou se revertendo em fatalidade e nos privando para sempre da convivência com um amigo, sinto necessidade de desabafar, pelo menos no papel. Nós, jornalistas, somos bichos estranhos, mesmo. Às vezes, só escrevendo conseguimos aliviar um pouco a cabeça e o coração.
Vou lembrar de Martins no seu cantinho na Redação, coincidentemente onde sentava outro companheiro que também já nos deixou – Benito Neiva. Lá, ele lia seus clássicos - já havia comprado 2.555 mil livros conforme, brincando, constatamos na última contabilidade com seu Ney, revisor.
Lá, no seu cantinho, ele ouvia clássicos no computador, com o seu fone de ouvido de “última geração”, comprado na mão de um camelô no São Francisco.
Lá, no seu cantinho, embaixo da televisão da Redação, ele nos atualizava sobre o filme do dia na Sessão da Tarde e também sobre o horário dos telejornais. “Olha o jornal, Érika Rosa!”, lembrava . Era o momento dele aumentar o volume para que todos pudéssemos ouvir as últimas notícias e não levarmos “furo” nas respectivas editorias.
Lá, no seu cantinho, ele ligava para dona Lurdinha toda noite para saber se Priscila já havia chegado e o que ele teria para a ceia ao chegar em casa. E tinham ainda as “brigas” com Cardoso, os xingamentos contra o “insurrecto” do Mário Reis, as provocações sobre as semelhanças com a calvície do chefe, e por aí ia.
Assim era o dia-a-dia na Redação com o nosso companheiro Raimundo Martins. Profissional competente, organizado, disciplinado e um ser humano doce, amigo, apegado à família e muito brincalhão. Como editor de Capa de O Estado, Martins era rigoroso com os horários e corria contra o tempo na hora do fechamento. Sabia que isso não era bom para a pressão. A ironia do destino é que ele estava de férias e se cuidando. Hipertenso, se submeteu a uma bateria de exames em Fortaleza. Lá, foi convencido a fazer uma cirurgia preventiva para desentupimento da carótida. Complicações pós-cirúrgicas não deixaram nosso amigo voltar para nós. Nos restam agora conformação e oração.
Mas, com certeza, os lanches das sextas-feiras e as noites de fechamento na Redação não serão mais os mesmos... faltará um amigo. Fica com Deus, Martins.
nJornalista

Companheiro
Raimundo Martins
nRibamar Cunha
Raimundo Martins,você não se foi, pois a sua lembrança sempre estará presente entre nós da Redação de O Estado.
A lembrança de grande companheiro, brincalhão, embora parecesse sério, e profissional do mais alto gabarito, nos confortará nesse momento de dor.
Você, Raimundo, nosso capista, que apesar dos atropelos, da luta conta o tempo e das cobranças, levava aos leitores de O Estado as principais manchetes do jornal, com zelo e competência inerentes ao seu profissionalismo.
Tive o privilégio este ano, em curto espaço de tempo (quanto tirei as férias do Cabalau) de trabalhar mais envolvido com a sua atividade. E, sem duvida, foi um grande aprendizado. Me senti honrado em poder ajudá-lo a trabalhar a capa do jornal.
Além de sua dedicação como profissional, o que mais me admirava em você, companheiro, era a sua paixão pela leitura. Tenho certeza, todos os seus colegas o admiravam por isso também.
Por ocasião da Feira do Livro, mês passado, cheguei a comentar com Flora que você, amigo Martins, deveria estar de sorriso largo, tantas eram as publicações à disposição de sua degustação literária.
Só tenho a agradecer pela oportunidade que tive de poder compartilhar grandes momentos ao lado do profissional e amigo Raimundo Martins.

Jornalista

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