sábado, novembro 17, 2007

TV

DO BLOG DE LEANDRO MAZZINI (JB ON LINE)

Por Hector García López - escritor

Abro a janela, ela sai de toalha. Ouço blues, ela fuma cigarrilha. Coço o saco, ela pinta a unha. Limpo o nariz, ela penteia os cabelos. Calço o tênis, ela passa o batom. Tiro a roupa, ela vê tv. Digo seu nome, ela esquece o perfume. Toco gaita, ela canta Norah Jones. Tiro uma foto, ela ri para o espelho. Toco meu coração, ela apalpa os seios. Chuto o cinzeiro, ela deita na cama, abre as pernas, toca o sexo levemente e me chama com o olhar insaciável de quem não quer só o gozo, mas o toque, o aperto dos dedos na virilha, a língua quente nos pêlos, a mordida na altura do umbigo, o cuspe certo no canal do prazer, e subo em beijos a pele macia e branca, depois desço em mordidas até os joelhos tortos e aperto-lhe as duas coxas por trás para sentir seu suspiro, e aperto sua nuca e mordo seu pescoço e a chamo para meu colo e a penetro por meia hora, uma hora, duas, três, quatro gozos até que o vento lhe traz a sensação de um ar polar nos cabelos e no rosto suado de cansaço, mas desinibido, até cair no colchão, sozinha, aberta, com os braços jogados às extremidades da cabeceira e olhar fixo no teto, seu céu nu e refletor da sua solidão.

Eu fecho a janela, e ela vê tv, espera seu gozo. A TV é como o amor. Nos ilude. E nos encanta. E tudo parece um filme quando acaba. Mais uma história para contar. Uma ficção que engana. Uma realidade que se disfarça. Há o sexo, há o amor, na tv e fora dela. Desligamos a tv. Partimos para lados opostos. Mais um filme nosso em preto e branco, até nos reencontrarmos e fazermos do sexo um script diferente a cada trepada.

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