segunda-feira, novembro 05, 2007

Os últimos degraus

Os últimos degraus ainda estão longe de ser alcançados. Mas também é verdade que nós, seres humanos, fazemos o possível para chegar ao fundo do poço.
Vocês, por acaso, sabiam que estamos no ano 47 D.D.? É isso mesmo. Eu também não fazia idéia, até esta noite de outubro, quando acessei a internet à caça de assunto para postar no meu blog. Foi então que fiquei sabendo que dois casais mexicanos se casaram numa tal de “Igreja Maradoniana”, em um clube noturno de Buenos Aires. Informa o sítio que a “religião” foi criada em 1998 por admiradores do ex-craque em hiperatividade Diego Armando Aspirêitor Tabajara Maradona. É muita falta de esculhambação, como diria o caboclo.
Ainda consoante (termo que está tão morto para o jornalismo quanto o futebol maranhense para este vosso escriba) a página da Grande Irmã internet, a criação da Igreja Maradoniana foi ins-pirada pela explicação que Dieguito, o Aspirador, arranjou para aquele escandoloso erro cometido pelo árbitro e o assistente da partida da Argentina contra a Inglaterra, nas oitavas-de-final da Copa de 1986 - o ano em que Deus teve a boa idéia de colocar neste mundo Rafaelle e Ingrid.
Só o juiz e o bandeira não viram Maradona dar uma raquetada na bola com a mão esquerda, na saída do goleiro Shilton. Depois da partida, Diego saiu-se com aquela viagem da “mão de Deus”. Esta foi, por assim dizer, a desculpa divina necessária para que uma meia dúzia de três ou quatro abilolados decidissem fundar a tal igreja. Esses doidisvanas são liderados por dois jornalistas - que deveriam ser pessoas esclarecidas, sensatas, centradas e ponderadas e não fanáticas, no que de pior essa palavra pode ter. Pois os senhores Alejandro Verón e Hernán Amez decidiram, na noite de 30 de outubro de 2002, aniversário de Maradona, consagrar em uma igreja o nada santo nome daquele que, em algum lugar do passado, foi considerado o maior jogador de futebol da Argentina. Um ídolo que, infelizmente, pode ser encontrado apenas em vídeos e fotos da época em que, de fato, era magistral e soberbo. Esse “deus” tão venerado pelos hermanos um dia desceu do seu pedestal, calçou as pesadas botas de chumbo do vício e decaiu tanto que, muito provavelmente, a luz no fim do túnel para ele era tão possível quanto a existência de vida inteligente no pequeno Jornal Pequeno.
A Igreja Maradoniana tem muito da Católica. Tem lá seus mandamentos - um dos quais exige que os filhos daqueles casais mexicanos, por exemplo, batizem seus filhos com o nome de Diego. As meninas, sem dúvida alguma, atenderão por Maradona. O Natal e o Ano Novo deles se baseiam no aniversário do ex-craque. Os anos se dividem em A.D. e D.D. (Antes e Depois de Diego). Alguém aí na platéia pode seguir meu exemplo e considerar essa igreja o que ela não deixa de ser: uma completa falta de absurdo. Todavia, é preciso admitir que todo e qualquer assunto, por mais ignóbil, deve ser encarado dentro de uma perspectiva mais ampla. Acredito que a filosofia tenha começado assim, quando os primeiros pensadores começaram a questionar a composição da realidade que os cercava.
Nesse caso, podemos levar a sério a Igreja Maradoniana caso esteja relacionada ao que se diz e se entende sobre religião: um conjunto de crenças que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças. Trocando em miúdos, não é errado que um grupo de pessoas se reúna para formar uma igreja. Errado será os que dela fizerem parte deturparem seus ensinamentos. Não é o caso das “testemunhas de Diego”, imagino. E é bem melhor para todos e para a felicidade geral da nação (o mundo inteiro, não só a Argentina) que assim continuem. Não precisamos mesmo de “neo-jihadistas”. E, se todas as principais religiões começam com grandes narrativas, depois da vitoriosa odisséia contra a Inglaterra, o principal feito de Maradona terá sido dar um tempo nos tóxicos. O que não deixa de ser um acontecimento bem relevante. Paz do senhor!

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