Muita gente por aí gosta de bater
no peito e bradar: “Sou brasileiro e não desisto nunca”. São otimistas até
debaixo d’água, como diria um filósofo contemporâneo. Pois diante da situação
política do país pós-resultados do julgamento do mensalão e da definição do
segundo turno em algumas capitais, domingo que vem, esses indivíduos até que se
mostram corretos quando afirmam que, no fim das contas, o medo não conseguiu
vencer a esperança.
Eu
não sei. Quando penso no que a tal da “classe política” vive aprontando e no
que sem dúvida ainda aprontará neste nosso Brasil varonil, chego à conclusão de
que não estamos mais nem no caso de colocarmos em pauta o medo versus a esperança e sim o medo versus uma baita desilusão.
E
sabem por que me sinto desiludido? Porque neste domingo não ficarei diante da
urna eletrônica na minha seção, no colégio Gonçalves Dias, para escolher entre
os candidatos Castelo ou Edivaldo Holanda quem será o prefeito de São Luís.
Lamento
dizer que, no meu caso, os melhores “candidatos” atenderão pelas alcunhas de
“branco” e “nulo”.
O
caso é o seguinte: no meu modesto entendimento, São Luís está em maus lençóis.
De um lado do ringue eleitoral está João Castelo. Que definitivamente não foi o
prefeito que os ludovicenses esperavam. Ele tem obras para mostrar? Tem. Depois
de um longo e tenebroso inverno, o mercado da Cohab e a Avenida Santos Dumont
se transformaram em algo digno de elogios. Mas no contexto ele receberá menos
apalusos do que gostaria.
Como
festejar um prefeito que deixou uma renca de crianças fora da sala de aula?
Olha só: vocês aí sabem da história do Uruguai, não é? Segundo a Revista Piauí
deste mês, “é o segundo menor país da América do Sul, o menos corrupto (segundo
a ONG Transparência Internacional) e o mais seguro para se viver”. Além disso, “os
salários subiram 36,6% nos últimos sete anos (...). O desemprego bateu recorde
mínimo neste ano: 5,3%. Agora 13,7% dos uruguaios vivem abaixo da linha da
pobreza, uma redução de cinco pontos em um ano. Quase não há analfabetismo no
Uruguai e todas as crianças estão na escola. Nenhum dos países do Mercosul tem
indicadores sociais tão bons”. Além disso, segundo a mesma reportagem, todos os alunos da rede pública
receberam notebooks doados pelo governo federal de lá.
E
aí? Por que esses indicadores não puderam ser aplicados a São Luís? Tudo bem: é
possível que o prefeito alegue problemas de orçamento para não reforçar a
qualificação dos estudantes da rede municipal. Ele mesmo disse que a cidade já
se encontra “no limite” da Lei de Responsabilidade Fiscal. Vá lá. Mas por essa
razão deixar uma quantidade enorme de alunos fora das salas de aula porque não
havia recursos para reformar ou mesmo realizar meros serviços de pinturas em
escolas é simplesmente inaceitável.
Quanto
ao adversário do alcaide tucano, os “senões” também são dignos de nota. O caso
da “milícia 36” já foi comentado até não poder mais. Serviu como combustível
para o contra-ataque da turma do PSDB, no sentido de recuperar terreno perdido
para os petecistas nas pesquisas. Portanto, não cabe mais aqui perder tempo com
esse assunto. O que durante toda essa campanha me causou perplexidade foram as
decisões de Edivaldo Holanda Júnior de, sempre que possível, não participar de
debates importantes – inclusive acionando a Justiça para tanto. E quando se fez
presente não mostrou o que realmente pretende, se eleito prefeito.
Portanto,
minhas senhoras e meus senhores, a meu ver não importa o que aconteça no debate
da TV Mirante: meu medo de ver a partir do ano que vem uma cidade conduzida mal
e porcamente por um administrador equivocado e minha desilusão em relação aos
tais dos nossos representantes estão em pé de igualdade.
Daí
minha sincera opção pelo voto em branco ou por anulá-lo de uma vez.
E
o pior é que nem se trata de uma questão de protesto.
NEY
FARIAS CARDOSO
Revisor
de O Estado
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