Uma das lições que Ernest
Hemingway passa a quem teve o prazer de ler “Paris é uma festa” é o escritor
conhecer bem o assunto que vai comentar.
No
meu modesto entendimento, não se pode seguir essa instrução ao pé da letra. Tom
Clancy não sabia pílulas do funcionamento ou das atividades praticadas em submarinos
antes de escrever o ótimo “Caçada ao Outubro Vermelho” e, até onde sei, nunca
foi um especialista em dispositivos termonucleares. Ainda assim, no volumoso “A
soma de todos os medos”, um dos personagens, com muita precisão e paciência,
consegue montar a bomba atômica que devasta o estádio que sedia a final do
futebol americano. Nos dois casos, Clancy se valeu, sem dúvida de pesquisas
sobre pesquisas na elaboração de seus dois best-sellers.
Da
mesma forma, posso não saber exatamente tudo a respeito de histórias em
quadrinhos. Para compreendê-las melhor, talvez precisasse “devorar” uma porção
de livros a respeito de arte sequencial e assim mesmo contando com a necessária
formação intelectual que apenas a universidade pode propiciar.
Portanto,
pode-se dizer que eu seja um aficionado
pelos quadrinhos. Desce a mais tenra infância, como diziam os antigos. O início
de minha formação de leitor se deve basicamente a eles. Aquelas velhas e
engraçadíssimas aventuras dos Trapalhões, do Tio Patinhas, do Zé Carioca fugindo
a todo custo da Anacozeca – a associação nacional de cobradores do papagaio –
abriram caminho para confrontos de maior porte, como a obra de José de Alencar,
Eça, Machado, Jorge Amado, Josué Montello, García Márquez e Franz Kafka.
E
já que recordar é viver, na adolescência esse tesão pelos quadrinhos era uma
fogueira cujas chama alimentávamos praticamente toda semana. Porque consumíamos
às dezenas as peripécias dos chamados super-heróis. Melhor ainda quando eles se
reuniam em grupos – ou em bandos, nos momentos em que os roteiros não nos
agradavam de forma alguma.
Gostávamos por
demais, por exemplo, da Liga da Justiça. Uma equipe que já teve uma pá de
encarnações. Algumas fracassaram terrivelmente, outras fizeram um sucesso
estrondoso. Pois recentemente voltei a ler algumas histórias de uma dessas “fases
positivas”. Estou me referindo à “Saga da Aberração Cósmica” – publicada aqui
no Brasil no já longínquo ano de 1988.
Nesse ano, como
se sabe, a Assembleia Nacional Constituinte aprovou o texto definitivo da nova
Constituição (que hoje em dia tem mais remendos que lona de circo pobre),
Ayrton Senna conquistou seu primeiro título na Fórmula 1 e Aurélio Miguel sua
medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul. Mas juro por Deus que me lembro
muito mais do conflito entre os Macrolatts e Zarolatts, que escaparam de sua
dimensão e transformaram o planeta Terra em um campo de batalha – conflito no
qual acabaram se envolvendo um terráqueo mal-intencionado, o cadáver de um
sujeito comum, recém-falecido, o Superman (na época chamado corretamente de “Super-Homem”)
e a Liga da Justiça – ainda na fase de transição que em breve a levaria a ser
Internacional e a ter “embaixadas” nos principais países do mundo, inclusive o
Brasil. E inclusive a contar, como um de seus membros, uma super-heroína
brasileira: Beatriz da Costa, a Fogo.
A DC Comics chamou
Jim Starlin para roteirizar a saga da Aberração. Quem curte quadrinhos há tanto
ou mais tempo que este escriba o conhece principalmente da “Trilogia do
Infinito”, da qual foi o mestre e senhor. A narrativa visual (os desenhos)
ficaram sob a batuta de Bernie Wrightson, espetacular em “Batman – O Messias”.
Os dois souberam construir uma história digna da importância da Liga, cuja
formação nesse período não era nada desprezível: Batman, Senhor Destino,
Capitão Átomo, Besouro Azul, Canário Negro e Ajax, o Marciano.
Para encerrar,
uma notícia rápida, mas não sem importância: Poliana Ribeiro disse que tentará
fazer sua Maria Luísa entrar em contato o quanto antes com as histórias em
quadrinhos. Decisão justa, muito justa, justíssima.
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