terça-feira, outubro 23, 2012

RECORDAR É VIVER


Uma das lições que Ernest Hemingway passa a quem teve o prazer de ler “Paris é uma festa” é o escritor conhecer bem o assunto que vai comentar.
            No meu modesto entendimento, não se pode seguir essa instrução ao pé da letra. Tom Clancy não sabia pílulas do funcionamento ou das atividades praticadas em submarinos antes de escrever o ótimo “Caçada ao Outubro Vermelho” e, até onde sei, nunca foi um especialista em dispositivos termonucleares. Ainda assim, no volumoso “A soma de todos os medos”, um dos personagens, com muita precisão e paciência, consegue montar a bomba atômica que devasta o estádio que sedia a final do futebol americano. Nos dois casos, Clancy se valeu, sem dúvida de pesquisas sobre pesquisas na elaboração de seus dois best-sellers.
            Da mesma forma, posso não saber exatamente tudo a respeito de histórias em quadrinhos. Para compreendê-las melhor, talvez precisasse “devorar” uma porção de livros a respeito de arte sequencial e assim mesmo contando com a necessária formação intelectual que apenas a universidade pode propiciar.
            Portanto, pode-se dizer que eu seja um aficionado pelos quadrinhos. Desce a mais tenra infância, como diziam os antigos. O início de minha formação de leitor se deve basicamente a eles. Aquelas velhas e engraçadíssimas aventuras dos Trapalhões, do Tio Patinhas, do Zé Carioca fugindo a todo custo da Anacozeca – a associação nacional de cobradores do papagaio – abriram caminho para confrontos de maior porte, como a obra de José de Alencar, Eça, Machado, Jorge Amado, Josué Montello, García Márquez e Franz Kafka.
            E já que recordar é viver, na adolescência esse tesão pelos quadrinhos era uma fogueira cujas chama alimentávamos praticamente toda semana. Porque consumíamos às dezenas as peripécias dos chamados super-heróis. Melhor ainda quando eles se reuniam em grupos – ou em bandos, nos momentos em que os roteiros não nos agradavam de forma alguma.
Gostávamos por demais, por exemplo, da Liga da Justiça. Uma equipe que já teve uma pá de encarnações. Algumas fracassaram terrivelmente, outras fizeram um sucesso estrondoso. Pois recentemente voltei a ler algumas histórias de uma dessas “fases positivas”. Estou me referindo à “Saga da Aberração Cósmica” – publicada aqui no Brasil no já longínquo ano de 1988.
Nesse ano, como se sabe, a Assembleia Nacional Constituinte aprovou o texto definitivo da nova Constituição (que hoje em dia tem mais remendos que lona de circo pobre), Ayrton Senna conquistou seu primeiro título na Fórmula 1 e Aurélio Miguel sua medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul. Mas juro por Deus que me lembro muito mais do conflito entre os Macrolatts e Zarolatts, que escaparam de sua dimensão e transformaram o planeta Terra em um campo de batalha – conflito no qual acabaram se envolvendo um terráqueo mal-intencionado, o cadáver de um sujeito comum, recém-falecido, o Superman (na época chamado corretamente de “Super-Homem”) e a Liga da Justiça – ainda na fase de transição que em breve a levaria a ser Internacional e a ter “embaixadas” nos principais países do mundo, inclusive o Brasil. E inclusive a contar, como um de seus membros, uma super-heroína brasileira: Beatriz da Costa, a Fogo.
A DC Comics chamou Jim Starlin para roteirizar a saga da Aberração. Quem curte quadrinhos há tanto ou mais tempo que este escriba o conhece principalmente da “Trilogia do Infinito”, da qual foi o mestre e senhor. A narrativa visual (os desenhos) ficaram sob a batuta de Bernie Wrightson, espetacular em “Batman – O Messias”. Os dois souberam construir uma história digna da importância da Liga, cuja formação nesse período não era nada desprezível: Batman, Senhor Destino, Capitão Átomo, Besouro Azul, Canário Negro e Ajax, o Marciano.
Para encerrar, uma notícia rápida, mas não sem importância: Poliana Ribeiro disse que tentará fazer sua Maria Luísa entrar em contato o quanto antes com as histórias em quadrinhos. Decisão justa, muito justa, justíssima.

Nenhum comentário: