quinta-feira, janeiro 05, 2012

AINDA NÃO DEU CERTO

Laurentino Gomes reabilitou a forma como os historiadores devem colocar no papel os acontecimentos históricos. Com seus dois livros de grande sucesso “1808” e “1822”, Gomes trata os eventos passados de maneira dinâmica e palatável, de olho na atual geração – que não tem o menor saco para ler tratados de 500 ou mais páginas.
Em “1822”, Laurentino afirma que quem observasse o Brasil naquele longínquo ano do século XIX teria razões de sobra para duvidar da viabilidade do nosso país como nação independente e soberana. “De cada três brasileiros”, declara o escritor, “dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população pobre e carente de tudo, que vivia à margem de qualquer oportunidade em uma economia agrária e rudimentar, dominada pelo latifúndio e pelo tráfico negreiro”.
Além disso,”o analfabetismo era geral. De cada dez pessoas, só uma sabia ler e escrever. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as diversas províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na fragmentação territorial, a exemplo do que já ocorria nas colônias espanholas vizinhas”.
Hoje, vemos o Brasil como “a sexta economia do mundo”. Ano passado, superou o Reino Unido, que caiu para sétimo em razão da crise bancária de 2008 e da consequente recessão. Ou, nas palavras do chefe-executivo do Centro de Pesquisa para Economia e Negócios (CEBR, na sigla em inglês) do Reino, Douglas McWilliams: “O Brasil tem batido os países europeus no futebol por um longo tempo, mas batê-los em economia é um fenômeno novo. Nossa tabela de classificação econômica mundial mostra como o mapa econômico está mudando, com os países asiáticos e as economias produtoras de commodities subindo para a liga, enquanto nós, na Europa, recuamos”.
Rio de Janeiro, princípio de 2012: as águas do rio Muriaé começam a invadir a cidade de Campos de Goytacazes após o rompimento de um dique. Pelo menos 4.000 moradores estão sendo retirados. Para chegar lá, apenas por avião ou helicóptero, porque a estrada de acesso ao município foi destruída. Para piorar a situação, na cidade de Cardoso Moreira, o rio começou a baixar. A localidade tem 90% de sua área alagada. Mas o pior mesmo é o nome do secretário municipal de Defesa Civil: Juarez Noé. Mais deboche do que isso, impossível.
Ano passado, como todo mundo lembra, há um ano a região serrana fluminense foi devastada por enchentes e deslizamento de terra. A 4ª maior tragédia do mundo propiciada por fenômenos naturais, deixou mais de 700 mortes e destruiu a cidade de Teresópolis, a mais afetada pela chuva.
Este ano, em Minas Gerais, 71 cidades estão em situação de emergência por causa das chuvas. Oito pessoas já morreram em razão do temporais. Ao mesmo tempo, um figurão do Governo Federal precisa explicar por que teria beneficiado seu estado de origem, Pernambuco, com o dinheiro que deveria ter sido aplicado no sentido de pelo menos minimizar a tragédia vivida diariamente por nossos irmãos do Sudeste.
O que nos leva a duas constatações. A primeira: se o Brasil, no ano de sua independência, tinha, de fato, tudo para dar errado (conforme afirmação do escritor Laurentino Gomes), a grande verdade é que ele ainda não deu certo. Mesmo agora, que este século vai se aproximando de sua segunda década. A outra constatação: nessas horas de pesadelo e desespero para as famílias arrasadas pelas tempestades, um país se considerar a sexta economia do mundo não significa rigorosamente nada.

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