quarta-feira, janeiro 11, 2012

POR UMA INTERNET LIVRE

Jamais vi a pirataria como um crime. Eu a entendo como um recurso. Vamos entrar um pouco no ramo das especulações: há uma biografia do cantor Roberto Carlos disponível para download. O livro intitula-se “Roberto Carlos em detalhes”. Não se encontra à venda em qualquer livraria ou sebo daqui de São Luís. Caso estivesse à mostra em alguma vitrine da Nobel, por exemplo, um fã do artista certamente desembolsaria uma boa grana para adquiri-lo.

Outro admirador do trabalho do artista, sem condições de gastar tanto para curar sua dor de cotovelo, poderia descobrir o site no qual a obra encontra-se pronto para ser baixado em alguma lan house, ao módico preço de R$ 1,00 ou R$ 1,50 por hora – dependendo do estado de espírito do responsável pelo estabelecimento, uma vez que esses valores não são tabelados.

No entanto, tenho percebido, de uns tempos para cá – não muito tempo, na verdade -, que o comércio pirata tem arrefecido bastante. Tanto por motivos de forte repressão por parte das autoridades quanto pela conscientização das pessoas. Em muitos dos casos, a versão não-oficial, por assim dizer, não tem mesmo a mesma qualidade da padronizada. Podemos citar o caso de uma camisa de time de futebol. As que são comercializadas no Retorno da Forquilha ou da UPA da Cidade Operária tendem a desbotar ou mesmo apresentar alguns pontos descosturados em poucos dias. Por isso, vejo mais consumidores recorrendo a sites como Submarino e Mercado Livre – apenas para citar os meus favoritamente prediletos.

Agora, acabo de ler na Web que empresas estrangeiras (as norte-americanas, que são as que mais choram), considerando-se prejudicadas pela pirataria (por elas entendidas como “violação”), começaram a propor, ao Congresso dos Estados Unidos, dois projetos que, no meu entendimento, são exemplos prontos e acabados de como o autoritarismo e o totalitarismo nunca desapareceram nem desaparecerão por completo.

De engraçados os projetos tem apenas o nome: SOPA e PIPA. O primeiro, por extenso: Stop On-Line Piracy Act – algo como “Interrupção da Pirataria On-Line”. O segundo: Protect IP Act – ou “Proteção para Ações de IP. Como se sabe, este é o famoso Protocolo de Internet, ou a conexão à qual pertence determinado endereço (ilustrando, o www.wikipedia.org está associado ao IP 208.80.152.130).

Caso estes dois projetos sejam aprovados, qualquer fornecedor e provedor de Internet terá carta branca para monitorar qualquer serviço on-line. Sites de busca, redes sociais, publicidade... Tudo o que promover de alguma forma atividades que estimulem a pirataria será sumariamente coibida. Quem não der alegremente a patinha para essa censura descarada e descabida será bloqueado e nunca mais terá o direito sequer de comprar ou vender uma pitomba no Mercado Livre.

Para esclarecer bem esse ponto, os sites e serviços não desapareceriam. Eles seriam submetidos a uma espécie de controle. Ou de regulamentação. Alguém ou um grupo de indivíduos confortavelmente situados no Poder Executivo americano iria ditar as regras para divulgação de conteúdo na Grande Rede.

É claro que houve reações imediatas. Por uma Internet livre, Google e Facebook já avisaram que, se esses projetos forem aprovados, tirariam o time de campo – pelo menos por algum tempo.

Atitudes extremas para ações semelhantes. O que está de errado com o mundo?

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