terça-feira, janeiro 24, 2012

DE BESTIAL A BESTA

Aconteceu assim. Era a decisão do Torneio Interbairros. A última partida do principal campeonato do futebol amador ludovicense, conforme estabelecido em seu regulamento desde a primeira edição, teve como palco o Estádio Nhozinho Santos na primeira quarta-feira de outubro do ano passado. Podia ter sido num sábado à tarde ou no domingo pela manhã, mas por aqui, como se sabe, há uma pavorosa ojeriza em relação a jogos de futebol acontecerem nos fins de semana, e as grandes vedetes são os disputados na segunda-feira à noite. Vai entender.
Críticas à parte, o Nacional, da Cidade Operária, e o Roma, do Bairro de Fátima, entraram em campo às sete da noite em ponto. Nas arquibancadas e sociais, um bom público. Mais gente, com certeza, do que haveria em um MAC x São José, por exemplo. E mais animada, sem dúvida alguma, com ambas as torcidas levando para o Gigante da Vila Passos suas respectivas charangas e batucadas.
O Nacional era o favorito. Mas ponha favoritismo nisso. Dos 96 timinhos, times razoáveis e timaços que começaram o Interbairros em setembro, foi o único a vencer todas as suas partidas goleando quem passou pela frente. O desempenho mais fraco ocorreu nas oitavas, diante do Manchester, do Filipinho, que apanhou só de três.
Já o Roma... Bem, o glorioso representante do Bairro de Nossa Senhora de Fátima não chegou invicto à grande final. Não se apresentou bem na primeira fase. Não tivesse feito um bom saldo de gols, teria ficado pelo meio do caminho. E das oitavas em diante eliminou seus adversários nos pênaltis.
E além do bom time que entrou nos diversos campos da Ilha para exibir um futebol esplendorosamente histórico, o Nacional contava, no banco de reservas, com o até então considerado melhor técnico do Interbairros, Luciano Ribeiro, o “José Mourinho de Upaon-Açu”. Porque, apesar de muito competente, era um chato de carteirinha, arrogante e prepotente. Em razão do ótimo trabalho realizado no torneio, acreditava-se a última jujuba do pote, em matéria de futebol-arte.
Quem acompanhava de perto o Interbairros de uma forma geral estava doido para ver o “bestial” (como o próprio se rotulava) virar besta e calçar as famosas havaianas da humildade. O problema era que o time de Luciano simplesmente não sabia o que era perder. Seu grande trunfo era o artilheiro do campeonato. Pedrinho, um moleque de 17 anos, fera até não poder mais, tinha o estilo do Messi: quando a dominava no meio-campo, a bola grudava em suas chuteiras e só parava dentro do gol do outro time.
E Pedrinho na decisão destruiu o Roma. Três gols em 40 minutos. Até o fim do primeiro tempo, o Nacional apenas tocava a bola no meio-campo, ouvindo o “olé” de sua torcida.
Os times foram para o intervalo. Quinze minutos depois, o Nacional voltou. Mas sem Pedrinho. De acordo com relatos fidedignos, ao saber que seria rifado porque seu treinador preferiu continuar administrando a partida a pulverizar de vez o Roma o menino e o técnico se estapearam no vestiário. O certo mesmo é que Luciano subiu para o gramado com o olho esquerdo machucado e Pedrinho nem mais na Cidade Operária continuou morando. E mais certo mesmo foi que o Roma aproveitou que a substituição adversária não surtiu efeito, reagiu e empatou a decisão de forma espetacular. A partida foi para os pênaltis... e aí o favoritismo mudou de residência.
E o bestial tornou-se besta. O que muita gente estava mesmo a fim de ver.

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