quinta-feira, janeiro 26, 2012

SETE CONSELHOS

Alguém aí na plateia certamente já ouviu falar em Gabriel García Márquez. Antes de Shakira deixar o mundo abismado com seu contorcionismo no palco, sua boz e sua boa música, Márquez encantou esse mesmo mundo com romances maravilhosos, como (em minha modesta opinião) “Cem anos de solidão”, “O amor nos tempos do cólera e “Do amor e outros demônios”.

Este preâmbulo serve como suporte para lhes contar que na última quarta-feira (25), vasculhando pela Internet - cada vez mais sob ameaça de controle do “dragão imperialista” estadunidense -, encontrei sem querer um blog no qual consta um opúsculo cujo título é “Sete conselhos de Gabriel García Márquez a um editor de blog”.

Na verdade, o título serve apenas para chamar a atenção, porque o próprio autor (não me peçam nomes agora: a memória tem escorrido por goteiras) afirma que o mestre de “Olhos de cão azul” não se dirigia exclusivamente a quem escreve em um blog e sim a qualquer um que trabalha com a palavra.

Eu mui humildemente, como diria o poeta, atrevo-me a de vez em quando “remover a neve da folha de papel”. E porque tenho um longo chão pela frente até preencher esta com as minhas inofensivas considerações, lhes passarei os sete conselhos, com o acréscimo de comentários – mais ou menos como Napoleão Bonaparte fez em relação a “O príncipe” do sempre atual Maquiavel.

1 – “Uma coisa é uma história longa e outra coisa é uma história alongada”.

A primeira deve ser mais interessante que a segunda. Os romances de Dan Brown, por exemplo. Tem 105 capítulos, mas, além da maioria deles ter pelo menos cinco páginas, as peripécias de Robert Langdon estão encadeadas de tal forma que o leitor termina o livro em menos de uma semana (o meu caso). Já em “Os cães ladram...”, de Truman Capote, há um “alongado” (e porre) relato dividido em duas partes de uma viagem que o autor empreendeu à então União Soviética. Uma obra assim pode ser largada pela metade sem o menor remorso.

2 – “O final de um artigo deve ser escrito quando estiver indo pela metade”.

É meio que um negócio de maluco. E meio impossível de se fazer, dada a concentração total exigida no ato de escrever. Você começa digitando, se perde na floresta de palavras feito um porco cego e o fim do texto é, literalmente, o último elemento com que deve ser preocupar.

3 – “O autor lembra mais facilmente como um artigo termina do que como ele começa”. Porque às vezes o começo do texto é um grande bolo de matéria fecal, e o escriba termina precisando se redimir do meio para o fim.

4 – “É mais fácil agarrar um coelho que um leitor”. Lógico. Quem lê é exigente. Não se deixa enganar por qualquer Paulo Coelho.

5 – “É necessário começar com a intenção de que se escreverá a melhor coisa jamais escrita, porque logo essa vontade diminui”.

Todo mundo que está no início da jornada pelas letras quer ser o próximo Jorge Amado, Érico Verissimo, John Updike ou Michael Crichton. Pretende ser a “bola da vez”, a encontrar uma forma de ajudar seu leitor a pensar de formas diferentes. Mas à medida que o tempo avança e traz consigo diversas decepções – não apenas no campo literário – a realidade obriga a arrogância a murchar feito um balão desamarrado.

6 – “Quando alguém se aborrece escrevendo, o leitor se aborrece lendo”. Quem escreve quer ser lido. É simples. Não sei se foi Montesquieu quem disse “Eu não faço nada sem alegria”. Em todo caso, essa lição deve ser aplicada a todas as atividades. E, já que você vai encarar a “luta com as palavras”, tente se divertir. As pessoas que lerão seus trabalhos vão agradecer que só.

7 – “Não force o leitor a ler uma frase novamente”. É o maior pecado que um escritor pode cometer. Vale para os prolixos e os que padecem de elefantíase literária – escrevem demais, sem conteúdo relevante. E eu espero ter seguido os sete conselhos à risca. Porque senão tentarei novamente. Até acertar.

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