sexta-feira, janeiro 20, 2012

UMA MANEIRA DE SER

Paul-Michel Foucault, "forasteiro de si", nasceu em Poitiers, na França, em 15 de outubro de 1926 e faleceu em Paris no dia 25 de junho de 1984. Ainda muito jovem, não conseguiu vaga na Escola Normal Superior, a fim de cumprir a tradição familiar de notáveis em medicina. Mas como há males que vêm para bem, no Liceu em que passou a estudar após a reprovação na Escola Normal começou a ter contato com a filosofia, tendo como professor Jean Hyppolite e, mais tarde, agora sim na ENS, passa a trocar ideias com gênios do quilate de Jean-Paul Sartre.
Sua incursão pelos mistérios das artes filosóficas - com algumas tentativas de suicídio de permeio - o ajudaram a se tornar célebre justamente por ter estudado, muitos anos depois, a questão da sexualidade. Em uma de suas observações - "O Ocidente e a verdade do sexo" -, ele considera o Ocidente muito interessado em dissecar a questão do sexo. De acordo com o pensador, "as ciências, as barreiras, os ocultamentos não devem ser subestimados; mas eles apenas podem se formar e produzir seus duvidosos efeitos sobre o fundo de uma vontade de saber que atravessa toda nossa relação com o sexo. Vontade de saber, nesse ponto imperiosa e na qual somos envolucrados e pela qual chegamos não só a buscar a verdade do sexo, mas a enviá-la à nossa própria verdade. A ela caberia dizer o que somos. De Gerson a Freud, toda uma lógica do sexo é edificada e organiza a ciência do sujeito".
Já em "Da amizade como modo de vida", uma breve entrevista ao jornal Gai Pied, em 1981, analisa a homossexualidade como uma maneira de ser que deve ser tratada com extrema habilidade dentro das relações sociais. "Entre um homem e uma mulher mais jovem", Foucault diz aos entrevistadores R. de Ceccaty, J. Danet e J. le Bitoux, "a instituição facilita as diferenças de idade, as aceita e as faz funcionar".
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O ator Francisco Cuoco, de alguma forma pressionado a dar declarações a respeito (ou por mera vaidade a fim de de chamar a atenção da opinião pública para seu atual relacionamento) afirmou recentemente que não via problemas em namorar, já na terceira margem da vida, uma bela jovem de 25 anos. Isso quer dizer que a "instituição" a que se refere - a sociedade - não facilita tanto assim as diferenças.
E, se não torna fácil a vida em comum entre pessoas com idades tão distintas e distantes, massacra o relacionamento entre dois homens - sem a necessidade de um ser mais velho que seu parceiro. O próprio Foucault reconhece: "Estão um em frente ao outro sem armas, sem palavras convencionais, sem nada que os tranquilize sobre o sentido do movimento que os leva um para o outro". A ausência desses códigos torna essa maneira de ser ainda considerada à margem.
Vai ser preciso um bom tempo até que as relações homem-homem (ou as estabelecidas entre mulheres) sejam socialmente sancionadas.

Nenhum comentário: